quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Futuro sem futuro

Para acompanhar esta charge, eu posto aqui as palavras do ilustrador Montalvo Machado sobre o lamentável episódio na USP.

Off-Topic total. Ranzinza eu sempre fui. Agora fiquei velho, me segura!

Zona de Spoiler: Depois de uma discussão com a colega Carolina Gabriel Pedro, acho que se tornou necessário esclarecer o óbvio neste post, para evitar generalizações e superficialidades:
Afirmar que eu sei que há estudantes que estudam chega a ser ridículo, de tão redundante, mas é verdade. Estou falando de exceções aqui, mais especificamente dos estudantes da USP que tomaram a Reitoria de assalto, e de seu séquito de seguidores.
É claro, é óbvio que eu tenho consciência que a USP é uma referência positiva no ensino, não apenas em escala nacional, mas no mundo todo. Mas a USP não é um Olimpo, nem é uma Cidade no sentido literal da palavra, com legislação e regras próprias, e correndo o risco de ser redundante pela segunda vez, digo o que todo mundo já sabe: A Cidade Universitária está inserida na Cidade de São Paulo, e é claro que segue e obedece as mesmas Leis Municipais.
Eu me sinto o profeta do óbvio, mas em um caso tão surreal e tão dissociado do mundo cotidiano, é preciso se agarrar às realidades mais primordiais, mais primitivas, para não sair delirando, como os estudantes em protesto na USP.
Não me espantaria em nada ver estes mesmos meninos protestando contra a Lei da Gravidade, tentando revogá-la, depois de fumar um beck.
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Uma hora eu tinha que admitir, talvez para mim mesmo, que a idade chegou, com tudo de bom e de ruim que ela traz.
Não estou com reumatismo, gota ou artrite, é outra coisa. A ruptura acontece quando você entra em conflito com a geração 20 anos mais jovem que a sua.
Você enxerga as situações e analisa fatos com base nas experiências vividas e através de outras, absorvidas através de outras pessoas, livros, filmes, jornais, etc.
Conversar sobre determinados assuntos com quem não tem estes referenciais pode se tornar uma infinita queda de braço, simplesmente porque há aqueles não conseguem (ou não querem) compreender.
E a conversa fica parecendo o papo de um velho ranzinza com um adolescente teimoso. Pra quem assiste de fora, deve dar vontade de bater nos dois, eu imagino.
Não que idade seja um referencial de razão ou que realmente represente alguma diferença intelectual, tem muito garoto de 20 anos com maturidade, experiência e sabedoria, enquanto outros tropeçam nos 50 anos como moleques inconsequentes.
Eu acho que a idade e a maturidade tem mais a ver com um estado mental e as experiências pessoais do que com uma condição física ou cronológica.
Mas no dia em que você encara um conflito de gerações e bate de frente com parte desta galera, alguns com metade da sua idade, a ficha cai.
“Veeeeelho! Você é tão velho, seu velho!”
No momento em que falta articulação ou sustentação no argumento, este é o primeiro xingamento que a moçadinha soluça quando você bota um deles na parede.
É a ofensa suprema, a pior palavra do vocabulário, quando este é muito limitado, é claro.
Algo equivalente a “Feio, bobo, cara de pastel!”, entre crianças de 5 anos de idade.
E por mais que tente explicar com detalhes, fatos, comparações e exemplos que um cortador de unha é diferente de uma guilhotina, alguns mais pirracentos preferem negar as evidências, a coisa se torna uma questão de honra, orgulho e amor próprio, e desatam a falar sem escutar uma palavra que você diz, só pra não admitir que perdeu o argumento.
Neste dia a visão do abismo entre as gerações aparece clara na sua frente.
Eles falam de “Ditadura”, “Fascismo” e “Liberdade” dentro dos limites da experiência que tem a respeito destes termos. E sejamos realistas, estas palavras soam muito fracas quando faladas por quem não viveu ou leu o suficiente.
Falta referência para saber o que é uma “Ditadura”. Falta a estes meninos ler um pouco da História Recente do Brasil, porque o que aconteceu há 20 anos já está sendo esquecido, o que dirá puxar pelos últimos 30 ou 40 anos? “Eu nem era nascido”, muitos dizem, como se não fosse obrigação deles saber o que aconteceu antes do glorioso dia do seu nascimento.
Como o universo gira ao redor de seus umbigos, nenhum deles acha necessário saber de “fatos velhos”. Tudo que aconteceu antes de 2005 é “velho” para eles.
Não sabem que muitos estudantes, como eles, foram perseguidos, presos, exilados ou morreram assassinados porque falaram o que não podia ser falado na época.  Se estes pirralhos de hoje podem publicar charges e caricaturas do presidente sem comer cana ou terem suas unhas arrancadas com alicate, dependurados de cabeça pra baixo num pau-de-arara, pelados, molhados e tomando choque elétrico no saco, é porque outros tantos passaram por isto, e com seu sangue conquistaram alguma “LIBERDADE” para a geração do século 21.
Seus putos, mal-agradecidos! Vocês não sabem o quanto devem aos seus colegas estudantes do final dos anos 60!
Volta aqui que eu vou quebrar a bengala nos teus cornos, seu pirralho!
(eu ia postar outro video, detalhando os métodos de tortura nos quartéis da época, mas o conteúdo era tão pesado que me fez mal, e eu troquei por este aqui):

Tem gente hoje em dia que não sabe quem foi Zélia Cardoso de Melo, PC Farias, e pouco se lembram de Fernando Collor de Mello. Muitos trafegam pela Rodovia Castello Branco sem se dar conta da absurda homenagem a um dos piores carniceiros que já comandaram este país.
E ficam com cara de interrogação ao ouvir nomes como Wladimir Herzog, Newton Cruz, Erasmo Dias, Leônidas Pires Gonçalves, Jarbas Passarinho, Garrastazu Médici ou Ernesto Geisel. Muitos não saberiam dizer qual destes foi assassinado nos porões do DOI-CODI, nem quem foi que arrotou as terríveis palavras “Às favas com os escrúpulos da Consciência”, ao assinar o AI-5.
Se não sabem nem o que foi o AI-5, como podemos esperar que saibam o que foi o DOI-CODI, o SNI e o MR-8?
Sabe quem foi Erasmo Dias, neném? Sabe o que ele fez com 3000 pessoas, (2000 destes eram estudantes) da PUC em 1977?
E estes moleques vem choramingando mimimi de “Ditadura”, quando a PM prende 3 maconheiros na USP.
Não quero fazer um julgamento raso, nem tenho poder ou direito para isto, mas da mesma maneira que muitos não tem a menor ideia do que a palavra “Ditadura” significa, também suponho que muitos devam saber muito bem do que estou falando, e provavelmente tenham estudado mais e melhor do que eu para entender o que se passou nos anos 60 e 70, porque tudo que eu sei daquela época é o que eu li ou aprendi convivendo com quem viveu aqueles anos.
Eu nasci em 1966, não vivi a Ditadura na carne, e apesar de ter lembranças dos tanques de guerra na rua, eu não tinha idade para pegar em armas, portanto não fui preso nem torturado, mas conheci gente que foi. Conheci gente que perdeu os pais, conheci uma jornalista que entrevistou os pais que perderam seus filhos, e ela me contou fatos horríveis sobre os anos de chumbo.
A minha bronca é com os moleques que se acham oniscientes, onipotentes e infalíveis, e usam os argumentos mais absurdos e ridículos para defender suas miragens. Se fossem ao menos justificáveis, poderiam ser chamadas de “ideologias”, mas não são.
O episódio da guerra entre os estudantes da USP e a PM demonstra a diferença entre a proteção de uma incubadeira e o mundo exterior . O ambiente universitário é temporário e respeitando as devidas proporções, bem mais protegido do que o ambiente social da cidade. É uma incubadeira para marmanjos. Que tipo de mundo aguarda os neófitos recém saídos do isolamento acadêmico? Contas, contas e mais contas, intercaladas com impostos, taxas e alíquotas.
Bem-vindos ao mundo real, meninos.
Acabou a festa, acabaram as notas, provas, TCC, etc. A reprovação aqui deste lado dos muros não dá mais DP, mas corte de luz, de água, gás e telefone, com requintes de ter seu título protestado em cartório, despejo, apreensão de bens, suspensão de crédito, etc.
Os meninos (no sentido mais pejorativo e redutivo do termo) da USP querem a descriminalização da maconha e o fim da PM, como pode ser lido neste post. Que fofinhos! E vão fazer o quê depois? Exterminam a PM e botam o quê no lugar? Plantam flores? Ou inauguram barzinhos descolados com um cardápio variado de cannabis, como os de Amsterdam, no lugar de cada delegacia?
Isto tem um jeitão de golpe de Estado, me parece a tomada do poder por força bruta, e uma vez conquistados os objetivos, estes meninos deverão dar prosseguimento aos fatos, com a instituição de novas regras, de um novo poder, talvez um novo formato de Governo. Como pretendem conduzir a sociedade a partir daí? Qual é o master plan? Fumar um beck e sair dando risada não é uma alternativa aceitável. Eu quero ver o business plan inteiro, com projeções para os próximos 5, 10, 20 e 50 anos, com gráficos estatísticos e com fundamentação em pesquisas confiáveis.
Quero uma resposta concreta e plausível, por favor.
Ou melhor ainda, me apresente um novo plano de Governo, mas não me venha com ismos, sem frescuras ou palavras de efeito em academiquês arcaico. Eu quero um planejamento viável com detalhes relevantes, demonstrados com objetividade e clareza.
Você não é o fodão das galáxias, o espertão da turma?
Mostra aí, vai que é bom.
Me mostra qual é o seu plano, mano!
Mas faça isto antes de executá-lo, né ô babaca?
Eu já me cansei de debater este assunto neste post do Facebook, e não vou me repetir aqui, mas algumas pérolas merecem ser citadas, para aqueles que não terão paciência de ler aquele debate.
Os mesmos meninos que lutam ferozmente pela descriminalização da maconha não souberam responder o que fazer com usuários e portadores de outras substâncias como haxixe e ópio, por exemplo. Como enquadrar um usuário que for apanhado fumando um baseado mix de maconha-haxixe ou um freebase de maconha-cocaína? Vai meio-preso ou fica meio-solto?
Não souberam responder também se devemos dar alta a todos os doentes da rede pública ao transformar os hospitais em centros de rehabilitação de drogados.
Ignoraram a minha pergunta quando eu quis saber como ficaria o trânsito com a liberação da maconha, com o inevitável aumento de acidentes e atropelamentos.
E como ficaria a sociedade sem a PM? Pra quem você liga se assaltarem a sua casa? Pro teu amigo traficante? Me explica, eu quero entender. Vamos cair na anarquia total? Cada um por si? Guerra civil? #comofas?
Teve um que argumentou que se maconha é proibida, deveriam proibir também o açúcar e a gordura, porque matam também. Tem outro que confia mais na Al-Jazeera do que no jornalismo brasileiro. Me mandaram um link de um site comunista-trotskista, furiosamente favorável à ocupação da Reitoria, com as charges mais idiotas, tendenciosas e rasas que eu já vi na minha vida.
Em 20 anos estes caras estarão ocupando cargos de poder, de decisão, e colocarão em prática os planos que audaciosamente planejam hoje.
Eu estou velho, e talvez não esteja mais aqui para ver a merda pegar no ventilador, mas uma coisa é certa: com uma liderança desnorteada como estas, não só eles, mas a sociedade como um todo está fudida.

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